Alfredo Marceneiro

O Leilão da Mariquinhas


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Ninguém sabe dizer nada
Da famosa Mariquinhas
A casa foi leiloada
Venderam-lhe as tabuinhas

Ainda fresca e com gagé
Encontrei na Mouraria
A antiga Rosa Maria
E o Chico do Cachené
Fui-lhes falar, já se vê
E perguntei-lhes, de entrada
P'la Mariquinhas coitada?
Respondeu-me o Chico: e vê-la
Tenho querido saber dela
Ninguém sabe dizer nada.

E as outras suas amigas?
A Clotilde, a Júlia, a Alda
A Inês, a Berta e Mafalda?
E as outras mais raparigas?
Aprendiam-lhe as cantigas
As mais ternas, coitadinhas
Formosas como andorinhas
Olhos e peitos em brasa
Que pena tenho da casa
Da formosa mariquinhas

Então o Chico apertado
Com perguntas, explicou-se
A vizinhança zangou-se
Fez um abaixo assinado,
Diziam que havia fado
Ali até madrugada
E a pobre foi intimada,
A sair, foi posta fora
E por more duma penhora
A casa foi leiloada.

O Chico foi ao leilão
Arrematou a guitarra
O espelho a colcha com barra
O cofre forte e o fogão,
Como não houve gambão
Porque eram coisas mesquinhas
Trouxe um par de chinelinhas
O alvará e as bambinelas
E até das próprias janelas
Venderam-lhe as tabuinhas.


Autor(es): Joao Linhares Barbosa

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