O Leilão da Mariquinhas
Ninguém sabe dizer nada 
Da famosa Mariquinhas 
A casa foi leiloada 
Venderam-lhe as tabuinhas 
Ainda fresca e com gagé 
Encontrei na Mouraria 
A antiga Rosa Maria 
E o Chico do Cachené 
Fui-lhes falar, já se vê 
E perguntei-lhes, de entrada 
P'la Mariquinhas coitada? 
Respondeu-me o Chico: e vê-la 
Tenho querido saber dela 
Ninguém sabe dizer nada. 
E as outras suas amigas? 
A Clotilde, a Júlia, a Alda 
A Inês, a Berta e Mafalda? 
E as outras mais raparigas? 
Aprendiam-lhe as cantigas 
As mais ternas, coitadinhas 
Formosas como andorinhas 
Olhos e peitos em brasa 
Que pena tenho da casa 
Da formosa mariquinhas 
Então o Chico apertado 
Com perguntas, explicou-se 
A vizinhança zangou-se 
Fez um abaixo assinado, 
Diziam que havia fado 
Ali até madrugada 
E a pobre foi intimada, 
A sair, foi posta fora 
E por more duma penhora 
A casa foi leiloada. 
O Chico foi ao leilão 
Arrematou a guitarra 
O espelho a colcha com barra 
O cofre forte e o fogão, 
Como não houve gambão 
Porque eram coisas mesquinhas 
Trouxe um par de chinelinhas 
O alvará e as bambinelas 
E até das próprias janelas 
Venderam-lhe as tabuinhas.
Autor(es): Joao Linhares Barbosa
