Tejo Que Levas As Águas
Tejo que levas as águas 
correndo de par em par 
lava a cidade de mágoas 
leva as mágoas para o mar 
Lava-a de crimes espantos 
de roubos, fomes, terrores, 
lava a cidade de quantos 
do ódio fingem amores 
Leva nas águas as grades 
de aço e silêncio forjadas 
deixa soltar-se a verdade 
das bocas amordaçadas 
Lava bancos e empresas 
dos comedores de dinheiro 
que dos salários de tristeza 
arrecadam lucro inteiro 
Lava palácios vivendas 
casebres bairros da lata 
leva negócios e rendas 
que a uns farta e a outros mata 
Tejo que levas as águas 
correndo de par em par 
lava a cidade de mágoas 
leva as mágoas para o mar 
Lava avenidas de vícios 
vielas de amores venais 
lava albergues e hospícios 
cadeias e hospitais 
Afoga empenhos favores 
vãs glórias, ocas palmas 
leva o poder dos senhores 
que compram corpos e almas 
Leva nas águas as grades 
... 
Das camas de amor comprado 
desata abraços de lodo 
rostos corpos destroçados 
lava-os com sal e iodo 
Tejo que levas nas águas
Autor(es): Manuel Da Fonseca








