
Canção do medo
Minha mãe como não morro
à vista desta carnagem
Dou por mal paga a viagem
a tais foguetes não corro
Não sei dos meu lavagantes
nem da mulher que me espera
Quero sair desta guerra
mesmo agora neste instante
Ai carnes do meu padrinho
podeis temer à vontade
Que a vida do teu sobrinho
vale bem a tua idade
E mais a tua canseira
em me ensinares que não dorme
Aquele que mata a fome
a quem só tem caganeira
Livra-me dos teus cuidados
rezo dois mil padre-nossos
Assim me cuidem dos ossos
sejam eles mil diabos
Agora tenho cagaço
como quando era menino
e me tolhiam os braços
temores ao verbo Divino
Levanta ferro meu corpo
vê se podes dar um passo
Valham-me todos os santos
das caminhadas que faço
Tão pouco pode a natura
nestas afrontas mortais
Que um homem morre mil vezes
mil e uma já é demais.
Autor(es): José "Zeca" Afonso