Pólvora Poética

Mais uma Noite


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Presenciei a cena do homem desempregado
Batendo a mão no balcão com uns trocados
O velho do bar olhando já com cara feia
Um Sol bem quente de meio dia e meia
E isso foi em um dia de segunda feira
Mas contar o tempo nesse caso é besteira
Uma rotina frustrante e nada prazerosa
Rotina que é cumprida de forma religiosa

Cada copo quem vem leva a dignidade
E só vai agrupando mais dificuldades
Assim como todos os dias o Sol se esvaindo
Dando lugar para a noite bem devagarinho
Sai expulso do bar e vai descendo a rua
Sob o olhar dos seus vizinhos e da lua
Olhos tortos, rosto vermelho e inchado.
Trançando pernas cambaleando pro lado

Puxa do bolço um chumaço de chaves
A esposa de dentro da casa vê e já sabe
Já sabe que hoje a noite vai ser longa
Um pesadelo que sempre lhe assombra
Rápida esquenta a comida com medo
Leva o filho pro quarto com os brinquedos
Ele entra e pergunta: por que não veio me atender
A comida esta quente pronta para comer

Ele vai pelo corredor, abre a porta do quarto.
Os brinquedos espalhados e ele olha farto
Vai ao filho e o abraça, com cheiro de bebida.
A esposa reforça que a janta já foi servida
Ele se levanta e olha com um ar hostil
Pergunta da bagunça ela disse que não viu
Mas vai arrumar para ele não ficar preocupado
Novamente diz da comida que está no prato

Ele senta à mesa com talher, pronto pra comer.
Reclama agressivo que não tem o que beber
Ela pega o suco, sem esperar pelo copo bebe da jarra.
Então se levanta da cadeira e com força a agarra
Ele fala que a comida está azeda uma desgraça
Com a roupa suja e um forte cheiro de cachaça
Ela olha pro chão submissa pede desculpa
Ele furioso com ela grita palavrões e a insulta



Gritaria barulho de pratos sendo quebrados
É bem próximo daqui no cômodo ao lado
O menino então levanta e abre a porta receoso
Vai até a cozinha vê o que deveria ser espantoso
Mas não é, e mesmo inocente vê e compreende.
Olha pra rotina e sente que seu pai é doente
Mesmo novo se lembra dos bons momentos
Tão novo e parece que isso se foi há tempos

Assiste sua mãe ser agredida em prantos
Ela corre aflita para se proteger no canto
O menino como sua única defesa chora
Tentando fazer os medos irem embora
Então o pai, que já não era mais tanto pai.
Vai em direção ao filho e a mãe grita sai
Era a única coisa que ela não suportaria
Alguém seja quem for fizesse mal a sua cria

Pega o filho nos braços e entra pro quarto
Bate a porta pega a chave deixando trancado
O marido esmurra a porta sua única protetora
Ela reza à virgem Maria sua única salvadora
Se deita com o filho no meio das cobertas
Dizendo que estão protegidos, mentira certa.
Os dois no fundo sabiam que não é verdade
Sonham com proteção já que é distante a felicidade

A mãe canta com voz serena sobre o vento
Que vai soprar suave levando os tormentos
Sempre depois da tempestade vêm à calmaria
Depois de uma noite escura que nasce o dia
Aquela voz fraca, no entanto doce à criança.
Acalmou o ambiente trazendo uma esperança
Que talvez a noite seguinte não seja como essa
Sua voz era um raio de luz no meio das trevas


Autor(es): Pólvora Poética