Pólvora Poética

Mundo Cão


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O movimento é grande observando as pessoas
Solitárias, sempre com pressa e o que me soa.
É que elas nunca sabem pra onde elas estão indo
E pra quem está perdido serve qualquer caminho
Andam como máquinas com passos frios, é o que sinto.
Estão tão perdidas e não usam seus instintos
Tento lhes dizer, mas ninguém me entende.
Me olham se assustam e seguem em frente.
Nos mesmos horários como uma manada e é esquisito.
Tão próximas e tão sozinhas, não são um coletivo
Sempre com desconfiança não confiam em si mesmas
Como se ao mesmo tempo fossem caçadores e presas

Algumas passam e colocam comida no meu pote
Geralmente recebo mais atenção de seus filhotes
Meu dono que chamo de pai que fica sentado ao lado
Até tenta falar, mas raramente ele é notado.
Enquanto recebo sorrisos, palavras gentis e até carinho.
Ele fica observando e sinto que ele se sente tão sozinho
Acho estranho, mas observo e me parece muito curioso.
Que quem é da mesma espécie eles veem como perigoso
O tempo passa o Sol deita pra que a Lua possa levantar
A noite é cruel nos trata com frieza e ainda vai esfriar
Meu pai só tem um cobertor e tenta dividir comigo
Sempre me dizendo ?você não vai passar frio amigo?.

Com um sorriso ele fica mais vermelho e menos consciente
Acho que é por causa daquela água com cheiro ardente
Ele bebe fica mais bobo e deve pensar que eu fico mais esperto
Porque conversa esperando minha resposta em seu dialeto
Conversa com o vazio e também aguarda pela resposta
Fala coisas como não aguentar tanto peso em suas costas
Coisas sobre o que não conheço de seu passado
Hora fala com raiva, hora com tristeza, fragilizado.
Abaixo minha cabeça, a noite é perigosa, levanto minha orelha.
Agora sou o cão que pastoreia e protege a frágil ovelha
Meus olhos são negros assim como a noite é escura
Sendo assim enxergo tudo, o bem, o mal e a loucura.

E meu olfato vai além de onde minha visão se limita
Como quando avisei do cheiro forte de querosene na esquina
Fugimos naquela ocasião para salvarmos nossas vidas
Fugimos mas aqueles jovens que praticavam a covardia
Além da exceção que é o homem, muito pouco ouvi falar.
De alguma outra espécie que matava pelo prazer de matar
Só daqueles que contraíram raiva e por ela eram consumidos
Mas mesmo na cólera não esbanjavam ou esboçavam sorrisos
Pelo meu pai acredito na harmonia humana com outros bichos
Antes dele tive outro dono que me abandonou no lixo
Ainda filhote meu pai me encontrou e por ele fui adotado
E sempre me perguntei por quem meu pai foi abandonado

A noite é longa, mas não me entrego esse é o meu ônus.
Ao primeiro raio de sol poderei cair no sono meu bônus
Mas antes que se torne profundo alguém nos incomoda
Batendo palmas incisivos dizendo que temos que ir embora
Que estamos no lugar errado meu pai acorda desnorteado
Como pode ser o lugar errado se por nós já foi demarcado
Com nojo de nós eles usam máscaras e luvas brancas
Fazem ameaças de como vão jogar meu pai na tranca
Eu quero resistir insisto que temos que ficar pra lutar
Meu pai me puxa e diz que vamos procurar outro lugar
Antes que pudéssemos sair eles jogaram água no chão
Meu pai puxou o cobertor, mas não salvou o colchão.

Como nômades mais uma vez procurando um lugar seguro
Temos que fazer isso enquanto é claro impossível no escuro
Depois de andamos por muito tempo paramos em uma praça
Sentamos e meu pai triste, acho que pensava naquela ameaça
Então uma moça sorridente que se apresenta como veterinária
Fala que pode cuidar das minhas feridas sem cobrar diária
Meu pai fica receoso, depois concorda pelos meus machucados.
Questionei na hora por que os seus não podem ser curados?
Enquanto ela me leva cheia de boas intenções olho pro meu pai
Ele sorri e me diz ?pode ir vai ficar tudo bem, vai...?
Que vai ficar ali que eu só tenho que procura-lo pelo cheiro
E ainda brinca pra eu não confundi-lo com um bueiro

Ela me leva pra um lugar com muitos outros cães
Que parecem serem todos tristes órfãos de pais e mães
Realmente ela prometeu e cuidou de todas as minhas feridas
Consciente ela me deu banho, carinho e ainda boa comida
Mas um dia dormi demais, quando acordei não sei direito
Estava calmo demais, desanimado não me sentia inteiro.
Fizeram algo enquanto dormia, aflito chamo pelo meu pai
Tão desesperado que a moça só conseguiu responder ?já vai?
Me leva de volta a praça só que agora algemado pelo pescoço
Ah meu pai não vai admitir isso, você vai deixa-lo furioso
Mas cadê? Não sinto seu cheiro, um andarilho da a noticia
Ele me esperou mas umas noites atrás foi muito fria

Cadê meu pai? Mundo cão, homem cão e isso é insano
Porque o mundo é do homem e o homem é tão humano
O homem que é o câncer mata o homem que era a cura
Meu pai era o único que sorria diante de uma vida tão dura
Ninguém lhe dava uma moeda nem sequer davam atenção
Ele passava fome mas sempre que necessário dividia o pão
Pra ganhar olhares de desprezo de homens usando terno
Meu pai era um anjo andarilho tendo que viver no inferno
Ele teve que comer no chão porque lhe negaram a mesa
Realmente agora vejo e acredito que o mundo não o mereça
Agora sou cão sem dono, contraí a raiva mato quem tá do lado
Ainda bem que meu pai não vai me ver ser sacrificado


Autor(es): Pólvora Poética