Audiência


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Perdão, doutor, por ter entrado desse jeito,
Não foi direito mas eu tenho explicação...
Fui obrigado a usar de malandragem,
Criei coragem porque tinha precisão.
Disse que tinha um assunto de emergência
E uma audiência eu pedi na recepção;
A secretária estava meio relutante mas dei o nome
De um cliente importante
E foi por isso que ela deu a permissão.
Sei que o senhor deve ser muito ocupado,
Tenho ligado muitas vezes do orelhão
Mas não dou sorte, parece que por castigo
Eu sempre ligo quando está em reunião!
E quando eu quis entrar no prédio, no outro dia,
Na portaria, porque estava mal trajado
Eu fui barrado, a vergonha foi bastante,
Por isso hoje eu voltei mais confiante
Todo elegante neste terno emprestado!

Sei que o senhor não me conhece, seu doutor,
Mas meu avô trabalhou junto com o seu;
Foi um amigo, muito mais que um empregado,
Sempre do lado até quando ele morreu.
Uma casinha, pouco antes da partida,
Por uma vida dedicada então lhe deu
E era tanta a confiança que se tinha
Que meu avô ficou morando na casinha
Mas documento não pediu nem recebeu!
Quando vovô partiu no trem da eternidade
Na propriedade o meu pai permaneceu
Mas morreu moço, num domingo de tardinha
E na casinha só ficou mamãe e eu...
Des’que mamãe recebeu ordem de despejo
Só pranto vejo nos sofridos olhos seus,
Com tantos prédios e sua fortuna imensa
Uma casinha não vai fazer diferença,
Cancele a ordem, peço pelo amor de deus!

Por que, doutor, que está chamando a segurança?
Não tem importância se não pode me ajudar...
Eu vou deixar nas mãos de deus nosso caminho
O mundo é dele, há de arranjar um cantinho.
Doutor, adeus, eu não vou mais lhe incomodar!


Autor(es): Pedro Ornellas

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