Facção Central

Enterro de Um Santo


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Aí, gambé!
Saca logo esse oitão e me mata
O demônio é meu guia, a Glock é minha arma
O sangue do playboy é meu veneno que escorre
Seu filho é o refém que eu mato pelo cofre
Eu sou o pulso algemado, o homem na cela do X
Que reivindica, que mata o carcereiro com uma faca
Que te faz feliz
Que engatilha um oitão na cara da piranha no sinal
Que no estalo de dedos - pá! - tá no Instituto Médico Legal
Servindo corpo pro cuzão da faculdade de medicina
Olha o corpo de ladrão, é promoção no cartão
Ou no cheque pra 30 dias
Dá risada empresário executivo do caralho!
Tira a blindagem da Mercedes e é amém e
É caixão lacrado, hé!
Tira a bunda da cadeira do escritório
E o favelado que não é problema seu
Estupra tua mulher, antecipa o teu velório
É isso aí, bate palma pro meu prato vazio
Cospe na mão que te pede esmola
E é corpo boiando na beira do rio...

Pode atirar - e atira pra matar!
O santo foi com a oração que Deus não quis escutar
Cansei de ser um pobre inútil, homem favelado
Agora eu sou o ladrão que com o revólver na mão
Deixa sua cabeça em pedaços
Queria leite pro neném, comida na panela, um caderno pra escola
Me deram uma semi-automática,13 tiros no pente
Então que Deus ilumine a minha nova trajetória...
Não sonho mais com seu emprego, não quero a sua merda de esmola
Vou atirar no seu peito, playboy, pra roubar sua jóia
Vou enquadrar sua Mercedes, te amarrar e jogar fogo, morou?
Te apresentar o santo que a sua sociedade enterrou:

Pode atirar - e atira pra matar!
O santo foi com a oração que Deus não quis escutar
Pode atirar - e atira pra matar!
O santo foi com a oração que Deus não quis escutar

"Aí, gambé. O ladrão aqui é só outro humilde brasileiro transformado em monstro, morou?"

Amanhã ou depois o corpo embaixo do jornal vai ser o meu
Na vela acesa o fogo do inferno que o sistema acendeu
No chão o sangue que não emociona, que não dá Ibope
Na dá tevê, não dá jornal, não vem revista
Que se foda o meu peito aberto com 5 de 9, hé!
Não tem repórter...

Só uma mulher chorando com uma pá de filho
Que no futuro estarão no mesmo lugar
Se transformando em carniça, com vários tiros
Porra, mano, é foda, dói na alma...
Não dá pra ser santo vivendo como lixo
A fome mata a calma...
O que o olho vê, o coração sente
É natal, aniversário: "Pai, cadê meu presente?"
Outro dia o moleque deu risada
"Olha lá o maloqueiro: uma semana com a mesma calça!"
Eu adianto meu velório, troco tiro, faço o necessário
Pra não ver a minha filha se vendendo na esquina
Ou meu filho trancafiado
Do apê do hotel de luxo é difícil entender
Dá pra mandar se foder. (Pode crer...)
No mergulho de piscina
É fácil julgar... "Ladrão tem que morrer."
Infelizmente, Deus não me deu carro, dólar, cobertura
Eu só sou outro filho da puta
Que trás seu almoço do mercado embaixo da blusa - embaixo da blusa!
Aqui a palavra da Bíblia não tem valor
A minha crença são seis dentro do tambor
Quando o oitão tiver na boca do seu filho
Não grita socorro
Eu desconheço o que é dó, amor... O monstro que você criou
Vai matar o cuzão igual se mata um cachorro
Queria ser outro humilde brasileiro mas cansei de sonhar
Então, gambé, pode atirar, hé...
E atira pra matar!

Pode atirar - e atira pra matar!
O santo foi com a oração que Deus não quis escutar
Pode atirar - e atira pra matar!
O santo foi com a oração que Deus não quis escutar

"Aí, gambé. Queria paz, mas me deram crack... e uma .357"

Eu vou entrar na tua casa, no teu restaurante
Eu vou matar sua mulher, pegar o vídeo da sua estante
Eu vou roubar a sua jóia, querer sua aliança
Se não tiver dinheiro, eu corto a sua garganta ("Hé!")
É isso aí! Fecha o vidro na cara do moleque, playboy
Bate palma pro defunto que põe medalha no peito do gambé do GOE
Tira médico, remédio do nosso hospital
Tira o professor da escola, - joga arma, crack, álcool; aí tá legal!
Joga um homem num barraco de dois metros quadrados
Construído de madeirite
Colchão de barro, muita gambiarra, goteira na Brasilit

O resultado jorra como sangue de defunto
Cinquenta, sessenta no X do DP
Polícia descarregando, tiazinha de luto
Você de mão amarrada no porta-mala do seu Tempra 2.0
E alguém ligando pra sua casa:
"Aí, piranha, seu marido vai morrer!
Eu quero tanto de resgate no seqüestro:"
É tomá lá dá cá no jogo do inferno!
Vai montar o seu palanque na puta que o pariu!
PMDB, PTB, vão se foder!
Acabou o show de marionete, ouviu?
Sem ensino, alimento, saúde, moradia
É revolver na mão, miolo voando
E o santo sendo enterrado
A cada segundo... cada minuto...
Todo dia...
Aí, gambé, dei mil motivo, a minha explicação
Honra seu distintivo e mata logo outro humilde brasileiro
Que a sua sociedade transformou em ladrão

Pode atirar - e atira pra matar!
O santo foi com a oração que Deus não quis escutar
Pode atirar e atira pra matar
O santo foi com a oração que Deus não quis escutar

"Aí, gambé. Não tem honestidade sem emprego... com o filho morrendo de fome... é foda..."

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