Pé de Espora
Da outra tua companheira
Pra resmungar na mangueira
Tomar cachaça em bolicho
Ou esporear num bochincho
Alguma china manheira
Chilena velha de ferro
Atada junto ao garrão
Roseta picando o chão
Numa festa ou entrevero
Na fosca luz do candeeiro
Sapateando no galpão
Cortou paletas de potros
Riscou as canchas de tava
Qualquer parada topava
Viesse de culo ou olada
E cansou de pedir bolada
Do quebra que corcoveava
Não foste mais ao rodeio
Baile, doma, marcação
Te desatei do garrão
Por falta da companheira
E abandonaste a mangueira
Vivendo pra tradição
O tempo te envelheceu
Te atirou ao abandono
Perdeste noites de sono
Rondando tropas no pampa
Ouvindo estalar de guampa
E a cochichar com teu dono
Querida espora gaúcha
Dizendo assim eu não erro
Não ouço mais o teu berro
Nem ouço mais teu barulho
De ser teu dono me orgulho
Bendito traste de ferro.
Autor(es): João da Cunha Vargas