Anjo em Descenção
Em embrião me encontro só
Por ser ímpar
Por ser de uma cor extravagante
Por ter um andar deselegante
Eu não sou ninguém, ninguém
Deixai-me estar
Minha imagem nesse templo, não vai entrar
Não quero gente para me velar
Não deixem flores no meu altar
Será que ainda há alguém a arriscar
Sua mão por milagres
Alguém a seguir, em vão, as miragens
O inferno é uma invenção
E eu sou um anjo em descensão
Eu não sou ninguém porque estou a dormir
Sonhos em torrente aguardam explicação
Nem Freud, em suta, os ia perceber
Nem coca ou cola iriam convencer
Eu não sou ninguém
Ninguém, já desisti
O ar que consumo, tão raro, termina aqui
Eu cisne, torpe, afino a garganta
Já descem grifos sobre a minha manta
Será que ainda há alguém a arriscar
Sua mão por milagres
Alguém a seguir, em vão, as miragens
E eu sou um anjo em descensão
Três, dois, um... Ai! Colisão
Autor(es): Jorge Benvinda / Nuno Figueiredo